Escritos por Luscas

Existe?

Passa-se o tempo e aumenta a minha incerteza sobre a existência de deus.

Ou melhor, aumenta a minha fé sobre a não existência de deus.

Quem me conhece a muito tempo pode se assustar ao ler isso.

Pode parecer que estou em cima do muro, mas não é bem assim.

Existem coisas que o homem não consegue desvendar. Ainda!

Nada é só físico, nada é só psíquico e nada é só espiritual.

E quando falo de espírito, já não incluo no contexto religioso.

Consigo perceber todas essas coisas "sobrenaturais", humanas.

Não digo com certeza que estou certo disso, mas é o que eu acredito.

Questionar dói e mais ainda descrer de tudo que me foi imposto.

Era mais confortável quando eu acreditava em céu e inferno.

Me sentia melhor ao pensar que tudo isso é um plano de deus.

E foi aí que começou tudo. Tantas guerras, doenças, sofrimento.

Tudo na conta de deus. Nada acontece sem a tua vontade.

Bondoso e justo. Nos criou por amor, deu seu filho... Bela estoria!

Penso, logo pergunto, logo vejo diferentes respostas e logo piro.

Porra, nunca imaginei uma resposta dessa, e que faça sentido.

Bora pensar diferente. E já me tornaram demônio.

Eu deixei o diabo tomar conta dos meus pensamentos.

Mas eu também não acredito no diabo, ele é cristão e eu não.

Estou pensando diferente e pior, estou pensando ao contrário.

Então já não me enquadro no perfil de ovelha.

Não bebo e nem fumo. Parece conservadorismo. E é.

Meu refúgio é a arte, mas especificamente o teatro. Por enquanto.

As vezes me vem a vontade de beber e fumar tanto, até esquecer de tudo.

Me conservo da morte, embora as vezes, não encontro sentido pra viver.

Tento acreditar em um mundo melhor e até me arrisco a colaborar.

Mas vejo tanta alienação e manipulação... dor.

Minha costa dói, minha consciência não dorme, meu corpo pesa.

Eu não vou conseguir. Nós não vamos conseguir.

Por isso não encontro o sentido pra continuar.

Não consigo ser feliz vendo meu irmão morrer de forma violenta.

Se o nosso perfeito amigo existe, ele é egoísta e maníaco.

Pois, essa violência não vem só dos homens, vem de deus.

Estou bem. Me sinto livre. Posso fazer o que eu conseguir.

Porque o que eu quero foge do meu controle.

Está nas nossas mãos e não separadas.

Como estamos tão distantes.

Tenho um único desejo ultimamente.

Que a natureza acabe com tudo isso!

Um dia de resistência

      Era um dia comum de trabalho, estava indo tudo dentro do normal, até descer na estação. Ao quase pisar na faixa amarela, percebi que algo estava fora do normal. Continuei com a mesma sensação quando comecei descer pelas escadas, cada passo que eu dava aumenta diferente sensação no ar. Eram incríveis os olhares das pessoas sobre mim, eu realmente fiquei em um estado completamente diferente, meus passos eram como aqueles vultos que a gente mal consegue ver.

     Ao chegar próximo da saída já era impossível não reconhecer o que estava acontecendo. Comecei a dar o último passo: encostei minha coxa na barra da catraca, finalizei o passo e eu estava do outro lado do portal. Fui virando bem devagar para a esquerda, com medo e preocupado por minha atitude manipulada pela intuição, eu poderia estar sendo preconceituoso e me decepcionar. Finalmente quando eu me virei, pude confirmar o que meu instinto estava me alertando desde a hora em que pisei na sinalização horizontal. Eu ainda tentei ignorar no início, mas estava demais.

         Uma mulher estava fritando pastel naquela hora da manhã e o cheiro tão gostoso pairava no ar por toda a estação. Não resisti.

 

 

E se minha mãe morrer

Hoje, ao chegar em casa, me deparei com a casa escura, porém, todas as luzes estavam acesas. Logo questionei, e a minha irmã respondeu. A mãe  sentiu fortes dores no peito e foram com ela pro Upa. Não me desesperei e fui logo dizendo que toda vez que ela passa mal, o médico fala que está tudo bem, e que foi só um susto. Deu 00:30, fui substituir a minha outra irmã no hospital.

     Dentro do taxi eu fiquei pensando, "e se minha mãe morrer". Na verdade, eu fiquei imaginando a minha mãe refletindo em sua própria morte, certamente ela falaria "posso morrer tranquila, meus filhos estão todos grandes e bem criados, cumpri minha missão".  E com isso eu comecei a pensar nos valores que meus irmãos e eu carregamos, a maioria passado por nossa mãe. Pensei, "bom, mãe, se Deus quiser te dar folga, espero que Ele lhe dê da melhor forma possível, que você tenha seu descanso, pois, você lutou muito para nos criar. E sei, com toda certeza do mundo, que nunca deixará de cuidar de cada um dos seus dez filhos.  Obrigado, mãe". 


      Não consigo parar de pensar no corre-corre, nos meus amigos que foram assaltados, nem nos meus irmãos que assaltaram. Sempre estivemos em meio a uma guerra social invisível. Uma briga de classes e cor sustentada por um sistema capitalista que só aumenta a desigualdade e a distância entre nós. Essa mídia que brinca de esconde-esconde, que coloca um clima de terror e medo e assim vai alienando e manipulando a grande massa para o caminho do ódio e intolerância, levando as pessoas a nos julgarem pela cor da nossa pele, as condições que vivemos e até mesmo a roupa que vestimos. E o pior é que essas pessoas estão se achando justiceiros ao profetizarem maldades e atuarem de forma cruel contra quem cometeu ou ainda é suspeito de algo, mal sabem eles que esse sentimento só aumenta o número de soldados na guerrilha, sem levarem em consideração que uma guerra só acaba quando um dos lados é aniquilado. Durante muitos anos, nós, negros e pobres estamos perdendo essa guerra, já perdemos muitos soldados pra fome, estamos perdendo nossos soldados nas drogas, no tráfico, no crime e tantos outros acontecimentos que vai matando o nosso povo aos poucos, sem que a grande maioria não perceba. Vários irmãos usando drogas, sejam elas lícitas ou não, independente, torna-os dependentes e os levam a cometerem atos criminosos, que nada mais é que um estouro inconsciente de revolta, raiva do menino branco, de cabelo liso que sempre está nas novelas e nas bancas, que tem suas características físicas consideras pelo sistema a beleza padrão, que automaticamente exclui o negro, que tem cabelo crespo e a pele escura, fazendo com que as pessoas só admirassem quem estivesse dentro do convencional. Esse sentimento de raiva não é natural, foi criado e implantado pelo sistema que nos nivelou, nos colocou tão distantes, separando em classes e territórios. Que me fez odiar a mim mesmo, a não gostar do meu cabelo, da minha cor, das minhas características. Eu tentei ser igual a você, branco, eu alisei meu cabelo, entrei na sua moda, não me reconhecia mais negro, me descaracterizei para ser parecido com você, pra ser mais aceito. Quem sabe assim eu seria atraente, quem sabe assim eu seria chamado pra fazer novela e ser capa de revista. Mas não, única coisa que consegui foi perder a minha autoestima, me via como um miserável que veio ao mundo pra sofrer, sem dinheiro, beleza ou poder, porque todas essas coisas estavam com vocês, eu não tinha mais coragem, até usar um elemento químico que me deixava encorajado a tirar sua carteira, seu celular e pensar que eu estava fazendo uma correção social. Não consigo me ver crescendo na vida, quando eu olho essa cadeia alimentar, não me vejo no topo e muito menos o caminho pra chegar lá, trabalhando não dá, estudando muito menos. Está estabelecido assim, o rico cada vez fica mais rico, o pobre cada vez fica mais pobre. Não tenho nada a perder. Você tem.  

   Quarteto

                            A amizade fere ou a saudade dói?

Ex amigo não devia existir. Momentos felizes deveriam ser esquecidos. Isso diminuiria minhas lágrimas. Se a lei da natureza é tudo ter fim. Tudo que foi bom um dia, te fará sofrer depois

Ah, lembranças!

Por que feres assim

Esse pobre coração inocente

Que sempre esquece do fim

Se entrega no presente

E chora no futuro

Com saudade do passado

 

Acúmulo de saudade

Fico imaginando do que irei sentir saudades daqui há cinco anos

E se sempre continuarei com esse aperto no coração

Ontem eu senti saudade de onde eu morava

Hoje eu senti saudade do meu amigo

E amanhã?  

 

 Gabi

Avistei uma menina

Pensei ser a gabi

Percebi que não era ela

E comecei a sorrir

 

Ia abraçá-la

Perguntar o que fazia por lá

Dizer como sinto sua falta

E pedir pra ela voltar

 

Pra quem não a conhece

Fique sabendo agora

Ela é bonita, cheirosa e lésbica

Uma amiga da escola  

 

  Eu devia escrever

Eu devia escrever 

Mas os pensamentos são tantos

Que me perco no mar de palavras

 

Eu devia escrever sobre ela

Mas ela se torna tantas

Que me perco no jardim

 

Eu devia escrever sobre mim

Mas sou tão monótono

Que durmo